O nível do Rio Negro, um dos afluentes do Amazonas, maior bacia hidrográfica do mundo, registrou entre os dias 13 e 16 de setembro redução de 1,24 metro em seu nível, considerada a maior diminuição em um curto período de tempo da história das medições do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
O fato preocupa cientistas devido ao período crítico de seca na Amazônia, que começou em meados de junho e deve seguir até o fim de outubro, quando começa o período de chuvas. Se o nível do Rio Negro continuar a descer rapidamente, há risco de alcançar o recorde mínimo registrado em 2010, quando as águas baixaram para 13,63 metros.
Em Manaus, já é possível transitar a pé em alguns trechos próximos à região central da capital. A vegetação rasteira começa a aparecer e barcos já não tem como navegar. Apesar desta visão, a medição desta segunda-feira (19) apontou que o rio está em 19,82 metros. No ano passado, o nível era de 18,23 metros.
“Neste período é normal a descida rápida do Rio Negro. Mas o que aconteceu nesses quatro dias seguidos, uma queda diária de 30 centímetros no nível da água, nunca havia sido registrada”, disse Marco Antônio Oliveira, superintendente regional do Serviço Geológico do Brasil.
Quando comparado ao recorde diário, a vazante (redução) histórica ocorreu em 18 de setembro de 1906, quando as águas do Rio Negro baixaram 36 centímetros. “Entre os dias 13 e 16 de setembro, a descida foi, respectivamente, 30, 32, 32 e 30 centímetros. Os valores são inferiores à medição mínima feita em 1906, entretanto, o que assusta é esta sequência”, explica Oliveira.
Calor – De acordo com Sérgio Bringel, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o forte calor que faz na bacia do Rio Negro, e que afeta níveis de rios como o Purus, causa uma redução da vazão.
“Existe também muito assoreamento na beira desses rios, consequência de desmatamento nas margens. Isto ocorre muito na chegada ao Oceano Atlântico, no Pará. O aumento de sedimentos abaixo da superfície da água faz o rio correr mais rápido para a foz e, consequentemente, diminuir seu nível mais rapidamente”, afirma.
Entretanto, Bringel não descarta uma nova seca recorde em 2011. “Estamos em estado de preocupação, já que essa queda de nível nunca tinha acontecido e na Amazônia não há um ciclo hidrológico (chuvas) homogêneo. Não sabemos quando começará de fato a chover, fato que influencia no nível dos rios”, explica o pesquisador.
Seca histórica – Em 2010, a região da floresta vivenciou a seca mais intensa da história, de acordo com estudo publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os períodos de estiagens intensos são atribuídos à confluência de dois fenômenos climáticos de rara ocorrência contínua. O primeiro foi um El Niño, que é o aquecimento das águas do oceano Pacífico Sul, o que intensifica as secas em várias regiões do Brasil. O fenômeno ocorreu entre dezembro de 2009 e abril 2010, justamente no período das chuvas na Amazônia, o que reduziu drasticamente o nível dos rios.
E depois, justamente durante a seca, houve um aquecimento das águas do Oceano Atlântico acima da linha do Equador – o que faz com que a umidade acumulada pela junção das correntes de ar que transitam pelo planeta permaneça no Hemisfério Norte, deixando a região da Amazônia muito mais seca. (Fonte: Eduardo Carvalho/ Globo Natureza)